20.4.09

O Livreiro De Cabul

Postado por Cristie®


Por ter vivido três meses com uma família afegã na primavera de 2002, logo após a queda do regime talibã, a jornalista norueguesa Âsne Seierstad pôde produzir
esta narrativa ímpar que mostra aspectos do país que poucos estrangeiros testemunhariam. Como ocidental, mulher e hóspede de Sultan Khan, um livreiro de Cabul, obteve o privilégio de transitar entre o universo feminino e masculino de uma sociedade islâmica fundamentalista. Preso e torturado durante o regime comunista dos mujahedin e dos talibãs, Sultan Khan teve sua livraria invadida e parte dos livros queimados, mas alimentava o sonho de ver seu acervo de 10 mil volumes sobre história e literatura afegã transformar-se no núcleo de uma nova Biblioteca Nacional.
Apesar da situação estável, a família do livreiro (duas mulheres, cinco filhos e
parentes) dividia uma casa de quatro cômodos em uma cidade que se recuperava da guerra e de trágicos refluxos políticos.

Os integrantes da família acostumaram- se à presença da autora sob uma burca. Assim, ela pôde observar relatos das rixas do clã; da exploração sexual das jovens viúvas que esperavam doações de alimentos das organizações de ajuda internacional; da adúltera sufocada com um travesseiro pelos três irmãos, sob as ordens da mãe; do exílio no Paquistão da primeira esposa de Sultan Khan, após um segundo casamento com uma moça de 16 anos; do filho adolescente do livreiro, obrigado a trabalhar 12 horas por dia, sem chance de estudar.
Âsne Seierstad apresenta uma coleção de personagens comoventes, que reflete as contradições do Afeganistão e nos emociona sobretudo, ao apresentar a rotina, a pobreza e as limitações impostas às mulheres e aos jovens do país.
O protagonista, mesmo sendo um homem de letras, é um tirano na orientação familiar, nos negócios, e pautado pelo radicalismo. Prova disso é, que indignado com o resultado do trabalho da autora, o livreiro de Cabul que inspirou o personagem Sultan Khan, foi à Noruega com o propósito de pedir reparação judicial.

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