2.10.09

Ensaio Sobre A Cegueira

Postado por Cristie®


Um dia normal na cidade. Os carros parados numa esquina esperam o sinal mudar. A luz verde acende-se, mas um dos carros não se move. Em meio às buzinas enfurecidas e à gente que bate nos vidros, percebe-se o movimento da boca do motorista, formando duas palavras: Estou cego.

Assim começa esse romance de José Saramago. A "treva branca" que acomete esse primeiro cego vai se espalhar incontrolavelmente pela cidade e, em breve, uma multidão de cegos precisará aprender a viver de novo, em quarentena. "Só num mundo de cegos as coisas serão o que verdadeiramente são." E, de fato, o que se verá é uma redução da humanidade às necessidades e afetos mais básicos, um progressivo obscurecimento e correspondente iluminação das qualidades e dos terrores do homem. (E das mulheres também, de maneira especial.)

Impressionante, comovedor, este romance é um marco na literatura em língua portuguesa. É uma visão das trevas, uma viagem ao inferno, e a história de uma resistência possível à violência de tempos escuros. "Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos", diz uma personagem. Com característico controle, José Saramago - e seu alter ego furtivo, no romance - luta aqui para combater a inadequação, ou insuficiência das palavras para resgatar o afeto perdido.

Às vésperas do fim do milênio, num período onde imperam, de um lado, a velocidade, a ganância e a abstinência moral e, de outro, a profecia e um misticismo compensatórios, o escritor vem nos lembrar a " responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam". É um livro, então, sobre a ética, e é um livro também sobre o amor, e sobre a solidariedade. "Parece uma parábola", comenta alguém no romance; mas sua força, como nas melhores parábolas, vem precisamente do realismo e da descrição, no limite do inominável.

Cada leitor viverá, aqui, uma experiência imaginativa única, no esforço de recuperar a lucidez. "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara." A epígrafe resume a empreitada do escritor, como de cada leitor. Não se trata só de reparar no significado das coisas, mas também de procedder a reparação do que foi perdido, ou mutilado - "uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos". (Arthur Nestrovski)

José Saramago nasceu em 1922 na província do Ribatejo, Portugal. Filho de agricultores, foi serralheiro, desenhista, funcionário público, tradutor e jornalista. Romancista, poeta e teatrólogo, em 1998 ganhou o prêmio Nobel de Literatura. Vive na ilha de Lanzarote, nas Canárias.

3 Comentários:

Anônimo disse...

Não li o livro, vi apenas o DVD, mas com certeza o livro deve ser bem melhor...rs colocarei na minha listinha e na próxima vez q o submarino fizer promoção frete grátis p todo o Brasil...rs ( p cá é uns 50 reais so em frete...rs) vou comprar..bjs

MilaCafé disse...

Oi Crisninha!

Incrível, mas ainda não li o livro e nem vi o filme!

Mas tua narrativa do enredo/sinopse despertou em mim uma grande curiosidade, com certeza vou assistir o filme e ler o livro - não necessariamente nesta ordem, mas vou!

Um lindo findi pra ti minha amada!

beijos

Cristie® disse...

Born
Hum! essa tu me passou, Não vi o filme ainda. Hehe Quem sabe depois do livro. Nossa! minha pasta de filmes tá mais que abarrotada, e não ando conseguindo ver nada... Bah! Preciso arrumar tempo urgente.

Milla,
A narrativa não é minha, (Nem nascendo traveiz. Hahaha) é o texto da orelha do livro. Foi escrita por Arthur Nestrovski, doutor em literatura e música. Um gênio!!!
Tente ler o livro antes do filme, que de regra nunca chega lá satisfatoriamente. rs
Bom findi prá ti também.
Beijão